31 de outubro de 2010

Criminalidade urbana: o crime como profissão


Criminalidade urbana: o crime como profissão
Marisa S. Neres
Socióloga
Professora substituta de Sociologia da Universidade Federal de Goiás e
Professora adjunta do curso de Direito da Faculdade de Jussara.



Os objetivos do texto que se apresenta a seguir são os de realizar algumas reflexões acerca da temática criminalidade urbana; apresentar o conceito de crime como profissão a partir do referencial teórico da sociologia; realizar algumas reflexões que permitam clarificar alguns aspectos da criminalidade urbana e suas implicações nas relações sociais que compõem a trama do tecido social. O trabalho se compõe de pesquisa bibliográfica sobre os conceitos de crime, crime como profissão, capitalismo e consumo e de entrevistas realizadas com reeducandos da Agência Prisional do Estado de Goiás que atuavam no tráfico de drogas. Para a realização das entrevistas, buscou-se, inicialmente, fazer contato com pessoas que: a) atuassem no tráfico de drogas, b) que não estivessem na prisão e c) que se dispusessem a relatar suas experiências no crime. Este método mostrou-se inviável. Chegou-se a fazer contato com tais pessoas; contudo, as mesmas se mostraram pouco dispostas a expor suas histórias por temerem qualquer implicação posterior decorrente de suas declarações. Assim, empreendeu-se a tentativa de realizar as entrevistas com pessoas que estivessem cumprindo pena no sistema prisional do Estado por crimes que podem ser incluídos no perfil de crime como profissão. Foram entrevistadas três pessoas do sexo masculino que cumprem pena por tráfico drogas. As entrevistas com dois reeducandos foram gravadas e uma entrevista não foi gravada devido ao fato de o entrevistado não ter concordado com esse tipo de registro. Neste caso, foram tomadas notas de seu relato. Na condução das entrevistas, os reeducandos foram estimulados a contar sua história de vida relatando-a desde antes do envolvimento com o crime, de que modo aconteceu o envolvimento, quais foram suas motivações, como se constitui o funcionamento da atividade e seu posicionamento moral e ético diante da mesma. Com este método objetivou-se obter informações cujos elementos pudessem explicar que ocorrências na vida dos entrevistados os fizeram aderir ao crime e que motivações os faz adotarem a prática de crimes, nela permanecendo. Buscou-se, também, obter informações sobre como se organizam as atividades, suas especificidades, sua lógica, suas regras e o posicionamento dos reeducandos em relação às mesmas, demonstrando que visão eles têm destes tipos de crimes e de si mesmos diante das atividades que exercem.


Por meio das informações obtidas nas entrevistas, buscou-se verificar se os crimes praticados pelos entrevistados poderiam, ou não, ser definidos como sua profissão.


Inicialmente os entrevistados se mostraram um pouco tímidos; mas, após os esclarecimentos da natureza e objetivos da pesquisa, mostraram-se mais à vontade, acessíveis e dispostos a relatar suas experiências. Seus nomes foram alterados para manter o sigilo de suas identidades. Dito isto, serão apresentados, a seguir, individualmente, os relatos das entrevistas e sua análise.


LEIA AQUI ; Criminalidade urbana: o crime como profissão:

3 comentários:

Paulo Roberto Brandão disse...

O traficante acha que é certooque ele faz e disse:A respeito de sua ética e moral diante do que faz, disse:



“Eu sei que o que eu faço não é certo, mas eu não sou desonesto. Eu não roubo; não tomo nada de ninguém. O que eu faço é vender um produto que se eu não vender pra quem quer usar, outro vai vender. É um negócio: eu compro o produto, pago por ele e vendo pra quem quer comprar. Eu não chego pra você e te ofereço coca. Eu não roubo ninguém. Não obrigo ninguém a usar o produto. E não é um dinheiro fácil, não. Não é um dinheiro fácil, como se diz por aí. É um dinheiro difícil de ganhar. É difícil porque tem que ter inteligência pra saber trabalhar; tem que ter cabeça, sangue frio, você se desgasta, se preocupa com o negócio, se preocupa com a sua família. Não é um dinheiro fácil, não”.

Paulo Roberto Brandão disse...

Entrevista com uma pessoa envolvida com o tráfico;O envolvimento com o tráfico

A ganância pelo dinheiro: o desejo de ficar rico foi o que motivou Lúcio a entrar para o tráfico. Pensava -- e ainda pensa -- que o trabalho honesto, tradicional, não deixa ninguém rico, o máximo que se consegue é viver com algum conforto. O tráfico de drogas, acreditava, seria o caminho que o levaria a ficar rico conforme desejava. Alegou que via escândalos políticos, casos de corrupção e desvio de dinheiro público que ficavam na impunidade e os culpados enriquecendo. Pensou que em seu trabalho com as máquinas agrícolas nunca conseguiria o êxito material que desejava e, por outro lado, pensava que tantas pessoas cometiam tantos crimes, tantos erros, não eram punidas e enriqueciam, que não seria ilícito, de acordo com sua visão, traficar drogas.

ivandro disse...

Já estou seguindo seu blog e gostei muito,gostaria de contar com você no meu obrigado.