Associação de pais que perderam filhos
São 13 os jovens que morrem, em média, por dia em Portugal. Por doença, suicídio, atropelamento ou acidente. Os pais, que vêem invertida a suposta ordem natural da vida, mergulham numa "dor inimaginável". Tentam colmatá-la com medicamentos e com divórcios, chegando mesmo a atingir estados de demência. "A Nossa Âncora" é uma associação de pais que perderam filhos, mas que conseguiram sobreviver à dor. Hoje, ajudam, um pouco por todo o país, outros pais a sarar a ferida.
"Só se pode entender a dor de perder um filho quando já se perdeu um. Tal como só se pode compreender a angústia de um vício como a droga, ou o álcool, quando já se foi viciado." A afirmação é de Maria Emília Pires, fundadora e Presidente desta associação, cujo objectivo principal é "devolver os pais à vida".
"Queremos ajudar os pais a enfrentar o horror da morte de um filho. Já passámos por lá, sabemos o que é ficar ferido. Mas sabemos também que é possível continuar a viver com alguma felicidade, tal como desejariam os nossos filhos se estivessem cá," afirma a fundadora, que perdeu a filha de 18 anos num acidente de viação. "Durante uns tempos fui transportada para um planeta qualquer, onde viver não fazia sentido. Mas eu tinha mais dois filhos e tive que voltar a por os pés na terra. Quando o consegui, vi que todas aquelas pessoas que se tinham preocupado comigo, tinham ido às suas vidas e eu estava sozinha. Não se falava da Mónica em lado nenhum e eu precisava falar dela," confessa Emília ao jornal "Público".
Um sentimento que é partilhado por quase todos os pais que viveram a mesma circunstância. Sentem-se sós, recorrem aos psiquiatras, aos medicamentos. Pensam em morrer, desintegram a família e nunca mais voltam a ser os mesmos.
A "Âncora" foi recentemente considerada pelo Estado uma Instituição de Utilidade Pública e o seu leque de tarefas não pára de aumentar. Hoje, organizam também fóruns, onde se apela à prevenção dos acidentes, da sida, etc. Uma das grandes preocupações desta associação é sensibilizar os médicos, os polícias e os bombeiros para a maneira como devem dar a notícia da morte de um filho aos familiares, uma vez que recebem centenas de queixas todos os dias.
A Câmara Municipal de Sintra atribui, anualmente, a esta instituição um subsídio no valor de mil contos. Quatro instituições bancárias e o "Correio da Manhã" doaram, este ano, um montante de 500 contos. Na totalidade, este dinheiro foi usado na recuperação de uma casa velha, onde instalaram a sede.
No início do próximo ano, Emília Pires promete mesmo abrir delegações em Braga e no Porto. Futuramente, também Tomar, Caldas da Rainha, Peniche, Vila Real de Santo António, Faro, Setúbal e Almada irão conhecer esforços neste sentido.
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